quinta-feira, 21 de maio de 2015

Como melhorar sua comunicação ou o caso da Radial Leste

Aqui em São Paulo, temos várias avenidas importantes e grandes, algumas com três ou quatro pistas em cada uma das direções. Este é o caso da Radial Leste que, de tão larga, muitas vezes tem um canteiro central separando as faixas que vão daquelas que voltam. E, por causa disso, você só consegue cruzar de um lado para o outro em alguns trechos.

Mas por que estou falando tudo isso se este é um blog de psicologia e não de tráfego urbano?
Só para mostrar uma situação que exemplifica como podemos ter certeza absoluta de que estamos sendo claros, quando, na verdade, não estamos.

Vamos ao caso!

Fui para a região do Tatuapé (onde fica a Radial Leste) e, como não sei me localizar muito bem por lá, resolvi pedir informações a uma pessoa. Estava numa rua transversal à Radial, a um quarteirão dela, e conseguia vê-la, mas não enxergava um ponto em que não houvesse canteiro central, algum cruzamento para seguir.

Cheguei e falei: 
"Moço, por favor, você poderia me dar uma informação? 
Eu preciso cruzar a Radial e pegar o sentido oposto, quero ir para o centro. Qual rua transversal eu pego?" 

Ele me olhou, parou um pouco e perguntou: "Você quer ir até Radial do outro lado?"
"Sim! Qual rua eu pego?" (repeti a pergunta, achei que ele não tivesse entendido)

"É só você ir reto nessa rua mesmo"

Eu olhei de novo para a Radial, não tinha cruzamento, eu não podia atravessar. Pensei de novo: ele não está me entendo. Pensei até em perguntar para outra pessoa, mas resolvi insistir e disse "Não, aqui não tem como eu passar para o outro lado. Preciso saber onde tem um cruzamento".

Aí, ele falou: "mas você está a pé, não precisa de cruzamento para atravessar".

Momento de surpresa (e de revelação): eu estava a pé naquele momento mas, de verdade, estava com o carro estacionado por ali e ele não tinha como saber disso. Lógico!! Como ele ia adivinhar que eu, uma pedestre que parou para perguntar simplesmente "como eu posso chegar" estaria de carro? E não sei porque, pra mim, essa era uma informação óbvia, daí eu ter pensado que o problema era ele ou a maneira como ele não estava me entendendo quando, na verdade, eu não estava sendo tão clara quanto achava. "Só" deixei de mencionar um detalhe que mudaria todo o rumo da conversa. Ah, telepatia...

Resultado: disse que estava de carro, obtive a informação sobre o cruzamento mais próximo e pedi desculpas pela confusão, afinal, por mais prestativo que ele fosse, não tinha como ler pensamentos. 

Essa situação simples me chamou a atenção porque eu tinha CERTEZA ABSOLUTA que estava fazendo o meu papel para que nossa comunicação fosse tranquila e clara. E essa convicção me fez cogitar que o problema fosse com o outro. Se eu insistisse nessa forma de pensar, não teria obtido a informação necessária, talvez ficasse pensando que o moço tivesse problemas de comunicação (ele, né?!), poderia ficar irritada e, pior ainda, deixá-lo se sentindo inadequado. 

Aprendi com isso que talvez seja interessante, caso me veja numa situação em que a comunicação pareça um pouco truncada, me perguntar se eu realmente explicitei todas as informações necessárias, antes de "concluir" que o problema é do outro.

Confesso que adoro a possibilidade que todos temos de aprender através de situações corriqueiras e usar essa informação em outras mais complexas. Tão mais prático, não?

Ana Carolina Diethelm Kley
anacdkley@hotmail.com
Para me adicionar no Twitter: @AnaDKley



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